sexta-feira, 12 de agosto de 2011

atividade 1 ano

Escola Estadual Anísio Teixeira.                                       Data:________/________/______
Aluno:________________________________________Série________________________
Professor: Marcos Venicius

Texto I:
As caridades odiosas      

Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchava na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos.
― Um doce, moça, compre um doce para mim.
Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água. Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o menino.
De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria que a cena humilhante para mim, terminasse logo. Perguntei-lhe: – Que doce você...
Antes de terminar, o menino disse apontando depressa com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.
― Que outro doce você quer? Perguntei ao menino escuro.
Este, que mexendo as mãos e a boca ainda espera com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um instante e disse com uma delicadeza insuportável, mostrando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha bondade.
― Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de ovo. Recebeu um doce em cada mão, levando as duas acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los... E foi sem olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A caixeirinha olhava tudo:
― Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas, mas ninguém quis dar.
Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De vergonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamentos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento de amor, gratidão, revolta e vergonha. Mas, como se costuma dizer, o Sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a oportunidade de... E para isso foi necessário que outros não lhe tivessem dado doce.  
(LINSPECTOR, Clarice. “As caridades odiosas.” IN: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Rocco, 1999,.p.249.)

01.    Que forma de expressão do menino comunicava a sua aflição?
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02.    De que maneira a humildade e a timidez do menino se manifestam no primeiro contato com o narrador?
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03.     Identifique a afirmação do narrador que melhor traduza seu mal-estar provocado pela presença do menino na pessoa dele.

a) “Eu não olhava a criança, queria que a cena humilhante para mim, terminasse logo.”
b) “E para isso fora necessário que outros não lhe tivessem dado um doce.”
c) “Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade?”
d) “Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto.”
e) “Ele poupava a minha bondade.”
04.    Que afirmação do narrador no último parágrafo sugere um sentimento de satisfação e plenitude com a experiência vivida?                                           
                                                                                            


a) “... com o rosto cheio de vergonha”.
b) “Era inútil voltar aos pensamentos anteriores”.                                                        
c) “... o sol parecia brilhar com mais força”.                                  
d) “E para isso fora necessário...”.
e) “Eu estava cheia de um sentimento de amor,...”.  

                                                          


                                                                                                                             
05.    Leia o seguinte parágrafo, extraído de uma crônica de Fernando Sabino.

Um menino sem pai nem mãe, sem o que comer nem onde dormir: isto é um menor abandonado – hoje em dia designado eufemisticamente menino de rua. Para entender, só mesmo imaginando meu filho largado no mundo aos seis, oito, dez anos de idade, sem ter para onde ir nem para quem apelar. Imagino que ele venha a ser um desses que se esgueiram como ratos em torno aos botequins e lanchonetes e nos importunam cutucando-nos de leve – gesto que nos desperta mal contida irritação – para nos pedir um trocado. Não temos disposição sequer para olhá-lo e simplesmente o atendermos (ou não) para nos livrarmos depressa de sua incômoda presença.
SABINO, Fernando. “Protesto tímido”. In: A vitória da infância. 6. Ed. São Paulo, Ática, 1999. p. 103.

·         Que elementos contidos no trecho de Fernando Sabino reforçam conteúdos também expressos na crônica de Clarice Lispector?
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06.    Entre outros fatos que levam crianças e adolescentes a se tornar meninos de rua estão a pobreza extrema, a desintegração familiar e a violência doméstica.
 Leia a reportagem (TEXTO 1) e a charge (TEXTO 2) e discuta as questões a seguir.

TEXTO 1

Arquivo JN: sete meninos de rua do Rio são assassinados na Chacina da Candelária

Cinco homens dispararam contra mais de 40 crianças que dormiam em baixo de uma marquise no Centro do Rio.

Mais de 40 crianças dormiam em baixo de uma marquise em frente à praça da Igreja da Candelária, no Centro do Rio. Os matadores chegaram em dois carros: os cinco homens saltaram e começaram a atirar. Duas crianças e um rapaz de 19 anos foram mortos ainda dormindo, os demais morreram quando tentavam fugir.

TEXTO 2
·         Por que existem meninos de rua?
·         Que coisas essenciais deveriam ser “dadas” pela sociedade para que não houvesse meninos de rua?
·         Que tipos de risco são enfrentados diariamente pelos meninos de rua?
·         E o que você acha da criação da FEBEM (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor)
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Agora é o estudo com um poema.
 Quando vim da minha terra,
não vim, perdi-me no espaço,
na ilusão de ter saído.
Ai de mim, nunca saí.
(Carlos D. de Andrade, no poema A Ilusão do Migrante)
07.  O sentimento predominante no texto é:
a) orgulho
b) saudade
c) fé
d) esperança
e) ansiedade
08.  Infere-se do texto que o eu lírico:
a) não saiu de sua terra.
b) não queria sair de sua terra, mas foi obrigado.
c) logo esqueceu sua terra.
d) saiu de sua terra apenas fisicamente.
e) pretende voltar logo para sua terra.
09.  Por “perdi-me no espaço” pode-se entender que o eu poético:
a) ficou perdido na nova terra.
b) ficou confuso.
c) não gostou da nova terra.
d) perdeu, momentaneamente, o sentimento por sua terra natal.
e) aborreceu-se com a nova situação.
10.  Pelo último verso do texto, deduz-se que:
a) ele continuou ligado à sua terra.
b) ele vai voltar à sua terra.
c) ele gostaria de deixar sua cidade, mas nunca conseguiu.
d) ele se alegra por não ter saído.
e) ele nunca saiu da terra onde vive atualmente.

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